Ações de treinamento e desenvolvimento

Você pôde concluir pelas leituras anteriores que as pessoas são muito importantes para o sucesso das organizações. Por isso, é necessário que as empresas promovam frequentemente ações de treinamento e desenvolvimento. Mas... Como fazer isso? Existe uma receita pronta? Qual é a melhor maneira?

Este é um dos casos da gestão em que não existe uma resposta única. Tudo depende de pontos como:

  • Objetivos da organização
  • Necessidades das pessoas
  • Estilo de cada empresa

Mas alguns conceitos são válidos para todas as organizações:

  • É preciso investir no desenvolvimento das pessoas;
  • As pessoas se desenvolvem por meio de seus próprios caminhos de formação;
  • As pessoas aprendem de formas diferentes;
  • É preciso aprender o tempo todo.

Lendo os casos das empresas bem-sucedidas apresentados na seção anterior, você pôde observar uma série de práticas interessantes relacionadas a treinamento e desenvolvimento. Vale a pena agora trazer um pouco de teoria para dar mais sentido à prática. Nos textos a seguir, você terá a oportunidade de aprofundar alguns conhecimentos que esclarecerão ainda mais as informações anteriores.

O conhecimento: fator crítico de sucesso

Nas últimas décadas, alguns dos principais teóricos da Administração e da Estratégia Empresarial vêm apontando a importância dos seguintes processos para o sucesso das empresas:

Processos de distribuição, compartilhamento, produção e apropriação, aliados ao conhecimento

Alguns, inclusive, afirmam que esses processos são fatores críticos de sucesso (como Peter Drucker e Thomas Stewart, por exemplo), mostrando que a “empresa do conhecimento” ou a “organização que aprende” substitui a chamada empresa da era industrial.

Hoje, o conhecimento é considerado o bem mais valioso de uma organização. Por isso, ao traçar suas estratégias competitivas, muitos administradores preocupam- se com as formas de realizar a gestão do conhecimento na empresa.

"A informação e o conhecimento são as armas termonucleares competitivas de nossa era. O conhecimento é mais valioso e poderoso do que os recursos naturais, grandes indústrias ou polpudas contas bancárias. Em todos os setores, as empresas bem-sucedidas são as que têm as melhores informações ou as que as controlam de forma mais eficaz."

A frase é de Thomas Stewart, o pioneiro do conceito de capital intelectual, formulado em seu livro "Capital intelectual: a nova riqueza das organizações." Ele foi eleito pelo jornal "Financial Times" um dos 50 pensadores contemporâneos mais influentes na área de gestão.

Sabemos que:

A empresa define suas competências essenciais
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E então...
Os funcionários precisam desenvolver competências técnicas e pessoais, de forma alinhada com as competências essenciais da empresa.

Quando isso ocorre no conjunto da empresa, de uma forma estruturada e harmônica, podemos dizer que se trata de uma organização capaz de aprender.

De acordo com Chris Argyris e Donald Schön, a aprendizagem organizacional ocorre sempre que o grupo produz um movimento de mudança, com o objetivo de adaptar-se melhor ao ambiente externo e interno, que resulta em melhoria de desempenho.

* Chris Argyris é professor de Comportamento Organizacional na Harvard Business School, e defende que as empresas dependem fundamentalmente das pessoas e de seu desenvolvimento individual. Foi o primeiro a defender as organizações em constante aprendizagem (learning organizations). Argyris e Donald Schön são considerados pais do conceito de organização que aprende.

Processos de aprendizagem na organização

Numa organização, o conhecimento não pode ficar limitado à cabeça de algumas pessoas. Ele precisa estar disponível para ser disseminado e aprendido por outros. Isso é o que Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuch – uma renomada dupla teórica da Administração – chamam de transformar o conhecimento tácito (que estava na cabeça das pessoas) em conhecimento explícito.

Imagine uma situação doméstica corriqueira: em uma cidade pequena, uma dona de casa faz quitutes como ninguém, e sua fama se espalhou pela vizinhança. Ela percebeu que gastava muito tempo ensinando individualmente as receitas a cada amiga que lhe pedia. Então, decidiu criar um processo mais dinâmico para compartilhar seus “segredos” da boa mesa – ou seja, o seu conhecimento tácito.

 Duas mulheres conversando. Ambas estão de perfil. A da esquerda está falando com a mão direita para o alto e apontando com o dedo indicador. Sobre ela há um balão de fala onde há três ovos, um sinal de soma, um copo de leite, outro sinal de soma, um pote com farinha dentro e um saco de farinha do lado. Do lado, há um sinal de igual e um bolo com fumaça saindo.

Um dia, chamou todas as vizinhas interessadas para uma “tarde de culinária” em sua casa. Além disso, escreveu detalhadamente todas as receitas, que tinha somente de cabeça. Assim, toda vez que alguém solicitava uma receita, era só tirar uma foto ou passar por mensagem no celular, pois tudo já estava registrado.

 Duas mulheres conversando. Ambas estão de perfil. A da esquerda está falando com a mão direita para o alto e apontando com o dedo indicador. Sobre ela há um balão de fala onde há três ovos, um sinal de soma, um copo de leite, outro sinal de soma, um pote com farinha dentro e um saco de farinha do lado. Do lado, há um sinal de igual e um bolo com fumaça saindo.

Dessa forma, o que ela sabia pôde ser compartilhado de forma mais ampla e eficiente, e as amigas que com ela aprenderam puderam depois multiplicar as informações a outras pessoas. Conclusão: o conhecimento que era tácito se tornou explícito.

É preciso ir do tácito ao explícito!

Para compreender a importância do processo de compartilhamento de informações em uma empresa, pense no caso da ambientação de novos funcionários. Quando eles começam a trabalhar, sabem pouco ou quase nada sobre a empresa, seus processos e sua cultura. Imagine que apenas o diretor-geral tivesse esse conhecimento: cada vez que entrasse um novo funcionário, ele teria que parar o seu trabalho para ambientar esta pessoa. Pensando nisso, muitas empresas usam recursos para facilitar a aprendizagem sobre a própria organização, transformando o conhecimento tácito em algo explícito.

Momento de reflexão
Que atitudes ou estratégias a organização podeia aplicar para ambientar um novo funcionário? Use a sua criatividade e, se achar necessário, faça uma pesquisa na internet. Registre suas ideias. Somente depois de responder, continue a leitura.

Para transformar o conhecimento tácito em conhecimento explícito, a organização poderia utilizar alguns meios, como:

  • Um curso na rede interna (intranet).
  • Um manual de ambientação, com as informações sobre os principais processos da empresa.
  • Um folder com um resumo sobre a empresa.
  • Um filme de boas-vindas.

Vale ressaltar que isso não substitui a conversa do novo funcionário com o diretor da empresa! No entanto, esses – entre outros recursos – ajudam a deixar o conhecimento mais acessível e perto de todos. Assim, a organização aprende com mais agilidade.

Que fatores dificultam o processo de aprendizagem na organização?

Conheça alguns desses fatores e procure evitá-los:

É comum que os dirigentes da organização desenvolvam pensamentos e visões fragmentadas e não encorajem seus funcionários a pensar por si próprios. Os comportamentos e as atitudes das pessoas são ditados por objetivos organizacionais, metas, estruturas e papéis criados antecipadamente, que inibem a inovação e a liberdade de ação de cada um.
Algumas pessoas tentam ao máximo empurrar as responsabilidades para outros, esconder falhas do processo e trabalhar simplesmente para “cumprir tarefas” que lhes foram pedidas.
Frequentemente, encontram-se gerentes que defendem a autonomia e a tomada de decisões democrática, mas, no dia-a- dia, afastam qualquer inovação que possa constituir uma ameaça ao padrão normal de suas atividades e à rotina.
“É mais fácil fazer como sempre se fez, e não correr riscos...” É assim que pensam as pessoas avessas à inovação!

Tendências: o que as organizações buscam para favorecer o aprendizado?

As empresas que desejam aprender continuamente buscam:

  1. Equipes integradas por profissionais de várias áreas, também conhecidas como equipes multidisciplinares;
  2. Redes como intranet ou internet para facilitar a circulação dos dados;
  3. Visão da empresa claramente estabelecida. A visão estabelece aonde a empresa pretende chegar, quais são suas metas para o futuro. Todos os funcionários precisam saber e compartilhar esses objetivos;
  4. Uma cultura toda voltada para aprender sempre;
  5. Capacidade de adaptar-se rapidamente às mudanças;
  6. Estratégias para a aquisição e distribuição do conhecimento;
  7. Funcionários com autonomia, flexibilidade e orientados permanentemente para o autodesenvolvimento;
  8. Sistema de recompensas e de plano de carreira compatíveis com as políticas de aprendizagem e criação de conhecimento.
  9. Líderes que atuem como dinamizadores e facilitadores das equipes de trabalho.
Homem em pé falando diante de sete pessoas, todas com roupas sociais e sorrindo para ele. Uma mulher está sentada diante da mesa onde todos estão próximos, um homem está inclinado com as mãos na mesa, e os demais estão em pé.
O novo papel do gerente

Na nova organização, enquanto a alta gerência tem o papel de zelar pelos rumos da organização, definindo e monitorando as linhas gerais do planejamento estratégico, o gerente de nível médio funciona como o que poderíamos chamar de dinamizador das competências. Ele convoca equipes, facilita o trabalho delas e propõe novos objetivos, monitorando os resultados.

Novas formas de aprender

Você já leu ou ouviu falar em conceitos como “rede de aprendizagem”, “aprendizagem cooperativa”, “conhecimento compartilhado”? Essas são formas atuais de dizer que o conhecimento está acessível a todos, e que existem formas de promover a troca de ideias entre os participantes de um processo de aprendizagem. Isso é possível com as novas formas de aprender, que combinam diversos meios para facilitar a disseminação do conhecimento.

Analise as ilustrações e verifique o tipo de situação de aprendizagem a que se referem.

Estudo pessoal

Uma pessoa pesquisa conteúdo que um ou mais autores tornaram disponível através de livros ou artigos.

Aula presencial

Um professor compartilha conhecimento com outros.

Trabalho em equipe

Várias pessoas compartilham conhecimento umas com as outras.

Rede de aprendizagem

Cada pessoa funciona como um nó de uma rede, tendo acesso ao conhecimento de todos e compartilhadno com eles o que sabe.

Das diferentes formas de aprender apresentadas, qual parece mais eficaz? Por quê? Registre suas ideias. Depois, continue a leitura.

Todos os modelos são possíveis e válidos. Quanto à oportunidade de intercâmbio com outras pessoas, não há dúvida de que o modelo da “rede de aprendizagem” é mais enriquecedor para os participantes. A rede de computadores permite vencer barreiras de tempo e de espaço, e podemos nos comunicar, aprender ou trocar informações com pessoas que estão em outros lugares, ocupam funções diferentes e têm experiências diversas a compartilhar. Para as empresas, este modelo tem se mostrado cada vez mais atraente, pois permite atingir mais pessoas e disseminar a informação com agilidade.

Globo no escuro com várias linhas azuis que se conectam e criam pontos brilhantes nessas conexões.

No entanto, todos os modelos são interessantes, dependendo dos objetivos de cada momento. Nas empresas de hoje, eles se combinam, havendo oportunidades de vivenciar essas e outras situações de aprendizagem.

As pessoas são diferentes e, por isso, aprendem de formas diferentes. Veja algumas das formas que as empresas utilizam hoje para capacitar seus funcionários.

Educação presencial

Nesta modalidade, professor e alunos estão juntos no mesmo local, ao mesmo tempo. A capacitação pode ser ministrada por professores ou consultores contratados ou pelos próprios funcionários da organização, que atuam como multiplicadores do conhecimento. Ocorre em vários modelos: aulas, cursos de curta, média ou longa duração, seminários, workshops etc.

Veja um exemplo de programa de treinamento presencial:

Programação da Oficina sobre Excelência no Atendimento a Clientes

  • 8h30
    Credenciamento dos participantes, entrega de crachás.
  • 9h
    Recepção dos participantes. Boas-vindas do presidente.
  • 9h30
    Palestra: “A importância do foco no cliente”.
  • 10h30
    Café/Intervalo.
  • 11h
    Trabalho em grupos: Desafios no atendimento a clientes e soluções criativas
  • 11h30
    Apresentação dos grupos e debate.
  • 13h
    Almoço.
  • 14h
    Continuação dos trabalhos. Painel: Tendências no atendimento a clientes – Casos de sucesso (apresentadores: três gerentes de três grandes redes nacionais).
  • 15h30
    Intervalo.
  • 16h
    Projeção de filme: “Quando o atendimento faz a diferença”.
  • 16h30
    Debate sobre o filme e as situações apresentadas.
  • 17h
    Conclusões finais e síntese do dia.
  • 17h30
    Avaliação do workshop.
  • 18h
    Término das atividades.

Educação a distância

Nesta modalidade educacional, professores e alunos podem estar separados no tempo e no espaço, ou seja, nem sempre estão fisicamente no mesmo local ou conectados a uma rede ao mesmo tempo. Cursos ou programas de formação a distância ocorrem por meio de instrumentos como internet ou intranet, vídeos e materiais didáticos, e podem contar com o apoio de tutores. Podem também utilizar tecnologias como videoconferência, teleconferência e ambientes virtuais de aprendizagem, entre outras.

Veja o exemplo de uma tela de um curso a distância na modalidade on-line:

captura de tela de um ambiente virtual de aprendizagem

Os cursos são estruturados em hipertexto, e cada participante pode traçar o seu percurso.

Modelo híbrido

Ou, como é chamado em inglês, blended learning. São programas educacionais em que parte das aulas é realizada presencialmente e parte a distância.

Veja o exemplo de uma ação de desenvolvimento no modelo híbrido:

Workshop presencial

Duração: 16h

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Curso on-line

Duração: 40h

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Videoconferência de conclusão

Duração: 2h

Aprenda com quem inova

Mulher sentada, sorrindo e escrevendo em um papel com a mão direita.
  • Storytelling – As pessoas narram a sua história e sua experiência, e a narrativa fica disponível na rede da empresa para ser ouvida por outros funcionários.
  • Portfolio – Os alunos de alguns cursos on-line podem colocar seus trabalhos na rede à medida que vão desenvolvendo, e não só quando fica pronto. Assim, o professor visita o blog do aluno e vai acompanhando seu trabalho ao longo do processo.
  • Jogos – Aprender brincando é muito melhor, não acha? Existem muitas empresas que pensam assim e investem em cursos com jogos e desafios. Isso motiva mais os participantes e reforça o espírito empreendedor.
  • Coaching – O coach (palavra inglesa) é um mentor, uma espécie de treinador ou conselheiro da vida profissional. A prática de coaching tem sido utilizada nas empresas e consiste em dar apoio, encorajamento e ajuda a outros nos desafios do dia a dia, ao mesmo tempo em que as pessoas são estimuladas a atingir o máximo do seu potencial.

Treinar e desenvolver é valorizar!

Hoje em dia os modelos de treinamento e desenvolvimento nas organizações são os mais variados, envolvendo inclusive parcerias com instituições educacionais e com empresas especializadas em projetos educacionais. Os investimentos em formação de pessoal aumentam cada vez mais: com e-learning, por exemplo. Lembra da cena que abre a nossa unidade? Quando a empresa investe na formação de seus empregados, eles se sentem valorizados.