Foco Narrativo
Quando lemos uma obra de ficção, queremos imergir naquele mundo construído por enunciados que nos remetem a outros lugares, tempos, sociedades e costumes, semelhantes ou diferentes do que reconhecemos.
Essa ilusão criada pela obra literária de ficção é elaborada milimetricamente pelos autores que dominam certas técnicas narrativas. Uma das principais é o foco narrativo, ou ponto de vista narrativo, que diz respeito ao lugar a partir do qual o narrador conta ou mostra a estória, pressupondo possibilidades e limites inerentes à posição escolhida.
Foco Narrativo
Quando lemos uma obra de ficção, queremos imergir naquele mundo construído por enunciados que nos remetem a outros lugares, tempos, sociedades e costumes, semelhantes ou diferentes do que reconhecemos.
Essa ilusão criada pela obra literária de ficção é elaborada milimetricamente pelos autores que dominam certas técnicas narrativas. Uma das principais é o foco narrativo, ou ponto de vista narrativo, que diz respeito ao lugar a partir do qual o narrador conta ou mostra a estória, pressupondo possibilidades e limites inerentes à posição escolhida.
Premissas da escolha do ponto de vista narrativo
A escolha do foco narrativo não
é aleatória. O autor escolhe como narrará sua
estória tendo em vista os efeitos que quer
produzir.
Por exemplo, se ele quer narrar uma autobiografia, é verossímil escolher um narrador identificado como
“eu”, que narre
sobre suas próprias experiências e priorize
a perspectiva de 1ª pessoa.
Uma vez escolhido o ponto de vista
narrativo, é importante manter a consistência .
Em outras palavras, pode-se explorar as
possibilidades oferecidas pelo foco, mas
deve-se respeitar seus limites.
Por exemplo, se o autor
estabelece que seu
narrador é uma pessoa comum, personagem da estória, as informações apresentadas devem ser coerentes com as
limitações de conhecimento de uma pessoa
normal. Isso significa que ele poderá discorrer sobre sua interioridade, seus sentimentos e pensamentos,
mas não poderá
entrar na cabeça dos demais personagens. Quando muito, ele poderá fazer
inferências sobre os outros.
Caso o narrador ultrapasse seus limites, o
leitor perceberá a incoerência, o que impactará a ilusão criada pela obra de ficção.
O leitor questionará “Como ele sabe isso?”
ou pensará “Não é possível que ele tenha
essa informação!”. Assim, a obra perderá
intensidade, concentração e coerência.
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SUMÁRIO NARRATIVO
(contar)
CENA IMEDIATA
(mostrar)
Na próxima etapa deste material, você terá acesso aos diferentes tipos de narradores, conforme Norman Friedman. Esses tipos se localizam em posições diferentes em um continuum que vai do sumário narrativo (contar), em uma ponta, à cena imediata (mostrar), na outra ponta.
Os eventos, personagens, ações, diálogos, etc. são apresentados
de forma panorâmica e resumida no tempo e espaço, sem entrar
em detalhes.
Por exemplo:
"O velho Mr. Pontifex se casara em 1750; durante quinze anos, porém, a mulher não lhe deu filhos. No fim desse período, Mrs. Pontifex assombrou a aldeia inteira, apresentando sinais evidentes de que pretendia presentear o esposo com um herdeiro ou herdeira. Já há muito tempo considerava-se o seu caso irremediável; e quando ela foi consultar o médico a respeito de certos sintomas, inteirando-se do que significavam, chegou a injuriar o doutor, tal foi sua zanga" (Butler, 1903).
Os eventos, personagens, ações, diálogos etc. são apresentados de modo detalhado, contínuo e sucessivo, à medida que aparecem ou ocorrem.
Por exemplo:
“A chuva parou, quando Nick entrou no caminho que atravessa o pomar. As frutas já haviam sido colhidas, e o vento outonal soprava através das árvores nuas. Nick parou e apanhou ao lado do caminho uma maçã Wagner, que a chuva pusera a brilhar no capim escuro. Colocou a maçã no bolso da japona tipo Mackinaw” (Hemingway, 1965).
IMPORTANTE
Tanto o sumário quanto a cena raramente ocorrem em suas formas puras. Na verdade, é comum a variação de um para outro em determinados momentos da narrativa. O que pode haver é uma predominância de um sobre o outro na obra, fato que permite a depreensão de tipos de narradores diferentes, como será visto a seguir.
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Tipos de narradores
Confira abaixo a descrição de cada um dos tipos de narradores.
ONISCIENTE
INTRUSO
CONTAR
ONISCIENTE
NEUTRO
TESTEMUNHA
PROTAGONISTA
SELETIVA
MÚLTIPLA
SELETIVA
DRAMÁTICO
MOSTRAR
AUTOR ONISCIENTE INTRUSO
• Faz julgamentos, comentários e digressões.
• Sumário narrativo predomina sobre a cena imediata.
• Foco através de todos os ângulos (domina interior e exterior dos personagens).
• Estória filtrada através da visão do narrador (em vez da visão de personagens sobre outros
personagens).
“Outra observação. O mundo das meretrizes, dos ladrões e dos assassinos, os galés e as prisões comportam uma população de sessenta e oito mil indivíduos, machos e fêmeas. Esse mundo não podia ser desdenhado na pintura dos nossos costumes, na reprodução literal do nosso estado social. Não será extravagante constatar que a justiça, os gendarmes e a polícia oferecem um número de pessoal quase correspondente? Esse antagonismo de gente que se procura e que reciprocamente se evita constitui um imenso duelo, eminentemente dramático, esboçado no presente estudo. Com o roubo e o meretrício sucede o mesmo que com o teatro, a polícia, o sacerdócio e a gendarmaria. Nessas seis condições, o indivíduo toma o caráter indelével. Não pode mais ser o que é.” (Esplendores e misérias das cortesãs, Honoré de Balzac)
Note que o narrador faz uma digressão que leva a uma reflexão da sociedade da época a partir da narrativa em desenvolvimento. Dessa forma, fica evidente ao leitor que ele está sendo conduzido por um narrador com liberdade sobre a estória, até mesmo para interrompê-la e tirar uma lição do observado.
AUTOR ONISCIENTE NEUTRO
• É impessoal e não faz intromissões na estória.
• Sumário narrativo predomina sobre a cena imediata.
• Foco através de todos os ângulos (domina interior e exterior dos
personagens).
• Estória filtrada através da visão do narrador (em vez da visão de personagens sobre outros
personagens).
“Os peitilhos das camisas abaulavam-se como couraças! Todo mundo estava escanhoado; e mesmo alguns, que se levantaram antes do amanhecer, não tendo boa vista para se barbear, vinham com grandes arranhões diagonais por baixo do nariz e nos queixos pedaços de pele arrancada, do tamanho de moedas de 3 francos, os quais, inflamados pelo ar fresco, durante o caminho, marchetavam de nódoas rosadas aquelas caras brancas e alegres.” (Madame Bovary, Gustave Flaubert)
Note que o narrador é onisciente, tendo ciência de informações interiores aos personagens ou de detalhes extraordinários. Porém, diferentemente do narrador onisciente intruso, não realiza comentários e intrusões na narrativa.
"EU" COMO TESTEMUNHA
• Personagem apresenta a estória.
• Sumário narrativo e cena alternam a depender da necessidade
do personagem.
• Foco periférico nômade (circula pelos lugares, fala com outros
personagens, estuda documentos, pode se aproximar ou se
afastar do centro da estória).
• Estória filtrada através da visão do personagem.
“Entendi naquele momento qual era o modo de raciocinar do meu mestre, e pareceu-me demasiado diferente daquele do filósofo que raciocina sobre os princípios primeiros, tanto que o seu intelecto assume quase os modos do intelecto divino. Compreendi que, quando não tinha uma resposta, Guilherme se propunha muitas delas e muito diferentes entre si. Fiquei perplexo. ‘Mas então’, ousei comentar, ‘estais ainda longe da solução...” (O nome da rosa, Umberto Eco)
Observe que o narrador é um personagem que narra sobre outro personagem, apresentando aquilo que vê, ouve e pensa. Com efeito, nosso narrador é secundário em relação ao mestre, e isso o aproxima do leitor, que aprende junto dele sobre os acontecimentos e descobertas da estória.
NARRADOR-PROTAGONISTA
• Personagem apresenta a estória.
• Sumário narrativo e cena alternam a depender da necessidade
do personagem.
• Foco central fixo (sua evolução movimenta a estória).
• Estória filtrada através da visão do personagem.
“Medo? Bananeira treme de todo lado. Mas eu tirei de dentro do meu tremor as espantosas palavras. Eu fosse um homem novo em folha. Eu não queria escutar meus dentes. Desengasguei outras perguntas (...) O que eu estava tendo era o medo que ele estava tendo de mim!” (Grande Sertão Veredas, João Guimarães Rosa)
O narrador conhece seus próprios sentimentos e pensamentos. No centro da ação, a narrativa é acompanhada pelo leitor do ponto de vista do protagonista, que compartilha dúvidas, certezas e as ações que realiza ou é capaz de observar outros realizarem.
ONISCIÊNCIA SELETIVA MÚLTIPLA
• Ninguém apresenta a estória (narrador implícito na organização
do todo).
• Cena predomina sobre o sumário narrativo.
• Foco diverso (pontos de vista de personagens diversos).
• Estória filtrada através da mente de múltiplos personagens.
O menino mais novo
“O menino deitou-se na esteira, enrolou-se e fechou os olhos. Fabiano era terrível. No chão,
despidos os couros reduzia-se bastante,
mas no lombo da égua alazã era terrível. Dormiu e sonhou. Um
pé-de-vento cobria de poeira a folhagem das imburanas, Sinhá
Vitória catava piolhos no filho mais velho. Baleia descansava a
cabeça na pedra de amolar.”
O menino mais velho
“Não acreditava que um nome tão bonito servisse para designar
coisa ruim. E resolvera discutir com sinhá Vitória. Se ela houvesse
dito que tinha ido ao inferno, bem, Sinhá Vitória impunha-se, autoridade visível e poderosa. Se
houvesse feito menção de qualquer autoridade invisível e mais poderosa, muito bem. Mas tentara
convencê-lo dando-lhe um cocorote, e
isto lhe parecia absurdo.”
(Vidas Secas, Graciliano Ramos)
Veja que a narração é feita a partir da mente de múltiplos personagens, explorando seu exterior e interior por meio da transição fluida entre o que os personagens fazem, falam, pensam e sentem.
ONISCIÊNCIA SELETIVA
• Personagem apresenta a estória.
• Cena predomina sobre o sumário narrativo.
• Foco central fixo (sua evolução movimenta a estória).
• Estória filtrada através da mente de um único personagem.
“Ia, afinal, possuir as alegrias do amor, a febre da
felicidade de que já
desesperara. Entrava em algo de maravilhoso onde tudo era paixão,
êxtase, delírio; uma imensidão azulada a envolvia, os píncaros do
sentimento cintilavam sob a sua imaginação, e a vida cotidiana
aparecia-lhe longínqua, distante, na sombra, entre os intervalos
daquelas alturas. Lembrou-se das heroínas dos livros que havia lido e
a legião lírica dessas mulheres adúlteras punha-se a cantar em sua
lembrança, com vozes de irmãs que a encantavam. Ela mesma se
tornara como uma parte verdadeira de tais fantasias e concretizava o
longo devaneio de sua mocidade, imaginando-se um daqueles tipos
amorosos que ela tanto invejara antes. Além disso, Emma
experimentava uma sensação de vingança. Pois não sofrerá já
bastante? Triunfava, todavia, agora, e o amor, por tanto tempo
reprimido, explodia todo com radiosa efervescência. Saboreava-o
sem remorsos, sem inquietação, sem desassossego.”
(Madame
Bovary, Gustave Flaubert)
Observe que a cena é mostrada através da mente da protagonista,
podendo transitar livremente entre exterior e interior, explorando
os movimentos de lembranças e sentimentos conforme sua
percepção.
O MODO DRAMÁTICO
• Ação e falas de personagens apresentam a estória.
• Cena predomina sobre o sumário narrativo.
• Foco frontal fixo (como em um palco, temos acesso ao exterior
dos personagens, principalmente sobre o que falam).
• Estória filtrada pela ação e fala de personagens.
“— Conte os seus pecados, meu filho.
— Eu pequei pela vista...
— Sim...
— Eu...
— Não tenha receio, meu filho; não sou eu quem está te escutando,
mas Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, que está aqui presente, pronto
a perdoar aqueles que vêm a Ele de coração arrependido. E então...
— Eu vi minha vizinha... sem roupa...
— Completamente?
— Parte...
— Qual parte, meu filho?
— Para cima da cintura...
— Sim. Ela estava sem nada por cima?
— É...”
(Confissão, Luiz Vilela)
Observe que a estória é construída através do diálogo entre personagens. Com efeito, o interior deles já não está diretamente disponível ao leitor. Por outro lado, note que subentendidos implicados nas falas sinalizam as intenções e sentimentos ocultos.
A CÂMERA
• Observação objetiva e neutra apresenta a estória.
• Cena predomina sobre o sumário narrativo.
• Foco arbitrário (foca em cenas montadas implicitamente).
• Estória filtrada sem seleção e organização aparente.
“Sou uma câmera com o obturador aberto, bem passiva, que registra, que não
pensa. Que registra o homem se barbeando na janela
aberta em frente e a mulher de quimono lavando o cabelo. Algum
dia, tudo isso precisará ser revelado, cuidadosamente copiado,
fixado.” (Adeus a Berlim, Christopher Isherwood)
“[...] o lavatório como um relicário gótico. O armário também é
gótico, com vidros trabalhados, de catedral. Bismarck encara o rei
da Prússia no vidro colorido. [...]”
(Adeus a Berlim, Christopher Isherwood)
Note que a cena é composta por uma combinação de imagens detalhadas que descrevem um ambiente sob um olhar aparentemente neutro.
Para mais detalhes, consulte o material abaixo
Tipos de narradores
Confira abaixo a descrição de cada um dos tipos de narradores.
CONTAR
AUTOR ONISCIENTE INTRUSO
• Faz julgamentos, comentários e digressões.
• Sumário narrativo predomina sobre a cena imediata.
• Foco através de todos os ângulos (domina interior e exterior dos personagens).
• Estória filtrada através da visão do narrador (em vez da visão de personagens sobre outros
personagens).
EXEMPLO
“Outra observação. O mundo das meretrizes, dos ladrões e dos assassinos, os galés e as prisões comportam uma população de sessenta e oito mil indivíduos, machos e fêmeas. Esse mundo não podia ser desdenhado na pintura dos nossos costumes, na reprodução literal do nosso estado social. Não será extravagante constatar que a justiça, os gendarmes e a polícia oferecem um número de pessoal quase correspondente? Esse antagonismo de gente que se procura e que reciprocamente se evita constitui um imenso duelo, eminentemente dramático, esboçado no presente estudo. Com o roubo e o meretrício sucede o mesmo que com o teatro, a polícia, o sacerdócio e a gendarmaria. Nessas seis condições, o indivíduo toma o caráter indelével. Não pode mais ser o que é.” (Esplendores e misérias das cortesãs, Honoré de Balzac)
EXPLICAÇÃO
Note que o narrador faz uma digressão que leva a uma reflexão da sociedade da época a partir da narrativa em desenvolvimento. Dessa forma, fica evidente ao leitor que ele está sendo conduzido por um narrador com liberdade sobre a estória, até mesmo para interrompê-la e tirar uma lição do observado.
AUTOR ONISCIENTE NEUTRO
• É impessoal e não faz intromissões na estória.
• Sumário narrativo predomina sobre a cena imediata.
• Foco através de todos os ângulos (domina interior e exterior dos
personagens).
• Estória filtrada através da visão do narrador (em vez da visão de personagens sobre outros
personagens).
EXEMPLO
“Os peitilhos das camisas abaulavam-se como couraças! Todo mundo estava escanhoado; e mesmo alguns, que se levantaram antes do amanhecer, não tendo boa vista para se barbear, vinham com grandes arranhões diagonais por baixo do nariz e nos queixos pedaços de pele arrancada, do tamanho de moedas de 3 francos, os quais, inflamados pelo ar fresco, durante o caminho, marchetavam de nódoas rosadas aquelas caras brancas e alegres.” (Madame Bovary, Gustave Flaubert)
EXPLICAÇÃO
Note que o narrador é onisciente, tendo ciência de informações interiores aos personagens ou de detalhes extraordinários. Porém, diferentemente do narrador onisciente intruso, não realiza comentários e intrusões na narrativa.
"EU" COMO TESTEMUNHA
• Personagem apresenta a estória.
• Sumário narrativo e cena alternam a depender da necessidade
do personagem.
• Foco periférico nômade (circula pelos lugares, fala com outros
personagens, estuda documentos, pode se aproximar ou se
afastar do centro da estória).
• Estória filtrada através da visão do personagem.
EXEMPLO
“Entendi naquele momento qual era o modo de raciocinar do meu mestre, e pareceu-me demasiado diferente daquele do filósofo que raciocina sobre os princípios primeiros, tanto que o seu intelecto assume quase os modos do intelecto divino. Compreendi que, quando não tinha uma resposta, Guilherme se propunha muitas delas e muito diferentes entre si. Fiquei perplexo. ‘Mas então’, ousei comentar, ‘estais ainda longe da solução...” (O nome da rosa, Umberto Eco)
EXPLICAÇÃO
Observe que o narrador é um personagem que narra sobre outro personagem, apresentando aquilo que vê, ouve e pensa. Com efeito, nosso narrador é secundário em relação ao mestre, e isso o aproxima do leitor, que aprende junto dele sobre os acontecimentos e descobertas da estória.
NARRADOR-PROTAGONISTA
• Personagem apresenta a estória.
• Sumário narrativo e cena alternam a depender da necessidade
do personagem.
• Foco central fixo (sua evolução movimenta a estória).
• Estória filtrada através da visão do personagem.
EXEMPLO
“Medo? Bananeira treme de todo lado. Mas eu tirei de dentro do meu tremor as espantosas palavras. Eu fosse um homem novo em folha. Eu não queria escutar meus dentes. Desengasguei outras perguntas (...) O que eu estava tendo era o medo que ele estava tendo de mim!” (Grande Sertão Veredas, João Guimarães Rosa)
EXPLICAÇÃO
O narrador conhece seus próprios sentimentos e pensamentos. No centro da ação, a narrativa é acompanhada pelo leitor do ponto de vista do protagonista, que compartilha dúvidas, certezas e as ações que realiza ou é capaz de observar outros realizarem.
ONISCIÊNCIA SELETIVA MÚLTIPLA
• Ninguém apresenta a estória (narrador implícito na organização
do todo).
• Cena predomina sobre o sumário narrativo.
• Foco diverso (pontos de vista de personagens diversos).
• Estória filtrada através da mente de múltiplos personagens.
EXEMPLO
O menino mais novo
“O menino deitou-se na esteira, enrolou-se e fechou os olhos. Fabiano era terrível. No chão,
despidos os couros reduzia-se bastante,
mas no lombo da égua alazã era terrível. Dormiu e sonhou. Um
pé-de-vento cobria de poeira a folhagem das imburanas, Sinhá
Vitória catava piolhos no filho mais velho. Baleia descansava a
cabeça na pedra de amolar.”
O menino mais velho
“Não acreditava que um nome tão bonito servisse para designar
coisa ruim. E resolvera discutir com sinhá Vitória. Se ela houvesse
dito que tinha ido ao inferno, bem, Sinhá Vitória impunha-se, autoridade visível e poderosa. Se
houvesse feito menção de qualquer autoridade invisível e mais poderosa, muito bem. Mas tentara
convencê-lo dando-lhe um cocorote, e
isto lhe parecia absurdo.”
(Vidas Secas, Graciliano Ramos)
EXPLICAÇÃO
Veja que a narração é feita a partir da mente de múltiplos personagens, explorando seu exterior e interior por meio da transição fluida entre o que os personagens fazem, falam, pensam e sentem.
ONISCIÊNCIA SELETIVA
• Personagem apresenta a estória.
• Cena predomina sobre o sumário narrativo.
• Foco central fixo (sua evolução movimenta a estória).
• Estória filtrada através da mente de um único personagem.
EXEMPLO
“Ia, afinal, possuir as alegrias do amor, a febre da felicidade de que já
desesperara. Entrava em algo de maravilhoso onde tudo era paixão,
êxtase, delírio; uma imensidão azulada a envolvia, os píncaros do
sentimento cintilavam sob a sua imaginação, e a vida cotidiana
aparecia-lhe longínqua, distante, na sombra, entre os intervalos
daquelas alturas. Lembrou-se das heroínas dos livros que havia lido e
a legião lírica dessas mulheres adúlteras punha-se a cantar em sua
lembrança, com vozes de irmãs que a encantavam. Ela mesma se
tornara como uma parte verdadeira de tais fantasias e concretizava o
longo devaneio de sua mocidade, imaginando-se um daqueles tipos
amorosos que ela tanto invejara antes. Além disso, Emma
experimentava uma sensação de vingança. Pois não sofrerá já
bastante? Triunfava, todavia, agora, e o amor, por tanto tempo
reprimido, explodia todo com radiosa efervescência. Saboreava-o
sem remorsos, sem inquietação, sem desassossego.”
(Madame
Bovary, Gustave Flaubert)
EXPLICAÇÃO
Observe que a cena é mostrada através da mente da protagonista, podendo transitar livremente entre exterior e interior, explorando os movimentos de lembranças e sentimentos conforme sua percepção.
O MODO DRAMÁTICO
• Ação e falas de personagens apresentam a estória.
• Cena predomina sobre o sumário narrativo.
• Foco frontal fixo (como em um palco, temos acesso ao exterior
dos personagens, principalmente sobre o que falam).
• Estória filtrada pela ação e fala de personagens.
EXEMPLO
“— Conte os seus pecados, meu filho.
— Eu pequei pela vista...
— Sim...
— Eu...
— Não tenha receio, meu filho; não sou eu quem está te escutando,
mas Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, que está aqui presente, pronto
a perdoar aqueles que vêm a Ele de coração arrependido. E então...
— Eu vi minha vizinha... sem roupa...
— Completamente?
— Parte...
— Qual parte, meu filho?
— Para cima da cintura...
— Sim. Ela estava sem nada por cima?
— É...”
(Confissão, Luiz Vilela)
EXPLICAÇÃO
Observe que a estória é construída através do diálogo entre personagens. Com efeito, o interior deles já não está diretamente disponível ao leitor. Por outro lado, note que subentendidos implicados nas falas sinalizam as intenções e sentimentos ocultos.
A CÂMERA
• Observação objetiva e neutra apresenta a estória.
• Cena predomina sobre o sumário narrativo.
• Foco arbitrário (foca em cenas montadas implicitamente).
• Estória filtrada sem seleção e organização aparente.
EXEMPLO
“Sou uma câmera com o obturador aberto, bem passiva, que registra, que não
pensa. Que registra o homem se barbeando na janela
aberta em frente e a mulher de quimono lavando o cabelo. Algum
dia, tudo isso precisará ser revelado, cuidadosamente copiado,
fixado.” (Adeus a Berlim, Christopher Isherwood)
“[...] o lavatório como um relicário gótico. O armário também é
gótico, com vidros trabalhados, de catedral. Bismarck encara o rei
da Prússia no vidro colorido. [...]”
(Adeus a Berlim, Christopher Isherwood)
EXPLICAÇÃO
Note que a cena é composta por uma combinação de imagens detalhadas que descrevem um ambiente sob um olhar aparentemente neutro.
MOSTRAR
Identifique os tipos de narradores
Analise os trechos literários e identifique o tipo de narrador correspondente.
“São
onze horas da noite, e três soldados romanos estão numa taverna. Há barris nas paredes. Por trás
do balcão de madeira está um
hebreu vendedor de vinhos. Os três soldados romanos estão um
pouco tocados.
1.º soldado romano — Já experimentou o tinto?
2.º soldado — Não, não experimentei.
1.º soldado — É melhor experimentar.
2.º soldado — Está bem, George, vamos tomar uma rodada do tinto.
Vendedor judeu — Aqui está, cavalheiros. Vão gostar.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Veja que a estória apresenta apenas uma breve notação de cena seguida de diálogo. Com esse
formato, o interior dos personagens já não está disponível ao leitor; pode, entretanto, ser inferido a
partir do que é revelado por meio de diálogos e ações externas.
Alternativa incorreta
Veja que a estória apresenta apenas uma breve notação de cena seguida de diálogo. Com esse formato, o
interior dos personagens já não está disponível ao leitor; pode, entretanto, ser inferido a partir do
que é revelado por meio de diálogos e ações externas.
“O rosto de Spade estava calmo. Quando seu olhar encontrou o dela, seus olhos, amarelo-pardos, brilhavam por um instante com malícia, e depois tornaram-se de novo inexpressivos — Foi você que fez isso — perguntou Dundy à moça, mostrando com a cabeça a testa ferida de Cairo, Ela olhou de novo para Spade, que não correspondeu absolutamente ao apelo dos seus olhos. Encostado ao batente, observava os circunstantes com o ar educado e desprendido de um espectador desinteressado.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Note que o narrador é onisciente, tem acesso a detalhes da ação e informações interiores
aos personagens,
mas não realiza comentários sobre o que está a narrar, mantendo-se neutro.
Alternativa incorreta
Note que o narrador é onisciente, tem acesso a detalhes da ação e informações interiores aos
personagens, mas não realiza comentários sobre o que está a narrar, mantendo-se neutro.
Não, senhora minha, ainda não acabou este dia tão comprido; não sabemos o que se passou entre Sofia e o Palha, depois que todos se foram embora. Pode ser até que acheis aqui melhor sabor que no caso do enforcado. Tende paciência; é vir agora outra vez a Santa Tereza. A sala está ainda alumiada, mas por um bico de gás; apagaram-se os outros, e ia apagar-se o último, quando o Palha mandou que o criado esperasse um pouco lá dentro. A mulher ia sair, o marido deteve-a, ela estremeceu.
Autor onisciente intruso
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Autor onisciente neutro
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem. Note que o narrador faz comentários sobre os acontecimentos, usa expressões avaliativas e
realiza interferências de modo a assumir o ponto de vista do leitor. Tudo que é narrado passa pelo
filtro do narrador, que escolhe o que revelar.
Alternativa incorreta
Note que o narrador faz comentários sobre os acontecimentos, usa expressões avaliativas e realiza
interferências de modo a assumir o ponto de vista do leitor. Tudo que é narrado passa pelo filtro do
narrador, que escolhe o que revelar.
“Sapateei, então me assustando de que nem gota de nada sucedia, e a hora em vão passava. Então, ele não queria existir? Existisse. Viesse! Chegasse, para o desenlace desse passo. Digo direi, de verdade: eu estava bêbado de meu. Ah, esta vida, às não-vezes, é terrível bonita, horrorosamente, esta vida é grande. Remordi o ar: — "Lúcifer! Lúcifer!..." — aí eu bramei, desengulindo. (...) Voz minha se estragasse, em mim tudo era cordas e cobras. E foi aí. Foi. Ele não existe, e não apareceu nem respondeu — que é um falso imaginado. Mas eu supri que ele tinha me ouvido. Me ouviu, a conforme a ciência da noite e o ouvir de espaços, que medeia. Como que adquirisse minhas palavras todas: fechou o arrocho do assunto. Ao que eu recebi de volta um adejo, um gozo de agarro, dai umas tranquilidades — de pancada. Lembrei dum rio que viesse adentro a casa de meu pai. Vi as asas, arquei o puxo do poder meu, naquele átimo. Aí podia ser mais? A peta, eu querer saldar: que isso não é falável. As coisas assim a gente mesmo não pega nem abarca. Cabem é no brilho da noite. Aragem do sagrado. Absolutas estrelas!”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Verifica-se que o narrador conhece apenas a si mesmo, seus sentimentos, impressões e
pensamentos. Porém, não é onisciente, não sabe se Lúcifer existe ou não, se houve pacto ou não,
tampouco nós, leitores, que compartilhamos a visão do protagonista.
Alternativa incorreta
Verifica-se que o narrador conhece apenas a si mesmo, seus sentimentos, impressões e pensamentos.
Porém, não é onisciente, não sabe se Lúcifer existe ou não, se houve pacto ou não, tampouco nós,
leitores, que compartilhamos a visão do protagonista.
“Enfim, casados. Venho agora da Prainha, aonde os fui embarcar para Petrópolis. O casamento foi ao meio-dia em ponto, na matriz da Glória, poucas pessoas, muita comoção. Fidélia vestia escuro e afogado, as mangas presas nos pulsos por botões de granada, e o gesto grave. D. Carmo, austeramente posta, é verdade, ia cheia de riso, e o marido também. Tristão estava radiante. Ao subir a escadaria, troquei um olhar com a mana Rita, e creio que sorrimos; não sei se nela, mas em mim era a lembrança daquele dia de cemitério, e do que lhe ouvi sobre a viúva Noronha. Aí vínhamos nós com ela a outras núpcias. Tal era a vontade do Destino. Chamo-lhe assim, para dar um nome a que a leitura antiga me acostumou e francamente gosto dele. Tem um ar fixo e definitivo. Ao cabo, rima com divino, e poupa-me as cogitações filosóficas.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Veja que o narrador é um personagem que narra sobre outros personagens, com estes no centro
da ação.
Alternativa incorreta
Veja que o narrador é um personagem que narra sobre outros personagens, com estes no centro da ação.
“Por que ela estava tão ardente e leve, como o ar que vem do fogão que se destampa? O dia tinha sido igual aos outros e talvez daí viesse o acúmulo de vida. Acordara cheia de luz do dia, invadida. Ainda na cama, pensara em areia, mar, beber água do mar na casa da tia morta, em sentir, sobretudo, sentir. Esperou alguns segundos sobre a cama e como nada acontecesse viveu um dia comum. Ainda não se libertara do desejo — poder — milagre, desde pequena. A fórmula se realizava tantas vezes: sentir a coisa sem possuí-la. (...) Quis o mar e sentiu os lençóis da cama. O dia prosseguiu e deixou-a atrás, sozinha.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Observe que a estória é apresentada por meio da mente da protagonista, transitando por seu
exterior e interior de forma fluida, focada na cena e nos detalhes.
Alternativa incorreta
Observe que a estória é apresentada por meio da mente da protagonista, transitando por seu exterior e
interior de forma fluida, focada na cena e nos detalhes.
“Ter, haver. Uma sombra no chão, um seguro que se desvalorizou, uma gaiola de passarinho. Uma cicatriz de operação na barriga e mais cinco invisíveis, que doem quando chove. Uma lâmpada de cabeceira, um cachorro vermelho, uma colcha e os seus retalhos. Um envelope com fotografias, não aquele álbum. Um canto de sala e o livro marcado.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Note que a cena é apresentada por meio de enumerações, focando em cada observação que
agrega e acumula sentidos. Trata-se de um trabalho de montagem de imagens, como se faz na edição de
vídeo captada por uma câmera aparentemente neutra.
Alternativa incorreta
Note que a cena é apresentada por meio de enumerações, focando em cada observação que agrega e acumula
sentidos. Trata-se de um trabalho de montagem de imagens, como se faz na edição de vídeo captada por
uma câmera aparentemente neutra.
Sinhá
Vitória
“Pensou de novo na cama de varas e mentalmente xingou Fabiano.
Dormiam naquilo, tinham-se acostumado, mas seria mais agradável
dormirem numa cama de lastro de couro, como outras pessoas. Fazia
mais de um ano que falava nisso ao marido. Fabiano a princípio concordara com ela, mastigara
cálculos, tudo errado.”
Fabiano
“Sinhá Vitória desejava possuir uma cama igual a de seu Tomás da
bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia
que era doidice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem. Qualquer dia o patrão os
botaria fora, e eles ganhariam o
mundo, sem rumo, nem teriam meio de conduzir os cacarecos.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Veja que a narração transita por exterior e interior de múltiplos personagens, apresentando
a estória através de suas mentes.
Alternativa incorreta
Veja que a narração transita por exterior e interior de múltiplos personagens, apresentando a estória
através de suas mentes.
Identifique os tipos de narradores
Analise os trechos literários e identifique o tipo de narrador correspondente.
“São
onze horas da noite, e três soldados romanos estão numa taverna. Há barris nas paredes. Por trás
do balcão de madeira está um
hebreu vendedor de vinhos. Os três soldados romanos estão um
pouco tocados.
1.º soldado romano — Já experimentou o tinto?
2.º soldado — Não, não experimentei.
1.º soldado — É melhor experimentar.
2.º soldado — Está bem, George, vamos tomar uma rodada do tinto.
Vendedor judeu — Aqui está, cavalheiros. Vão gostar.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Veja que a estória apresenta apenas uma breve notação de cena seguida de diálogo. Com esse
formato, o interior dos personagens já não está disponível ao leitor; pode, entretanto, ser inferido a
partir do que é revelado por meio de diálogos e ações externas.
Alternativa incorreta
Veja que a estória apresenta apenas uma breve notação de cena seguida de diálogo. Com esse formato, o
interior dos personagens já não está disponível ao leitor; pode, entretanto, ser inferido a partir do
que é revelado por meio de diálogos e ações externas.
“O rosto de Spade estava calmo. Quando seu olhar encontrou o dela, seus olhos, amarelo-pardos, brilhavam por um instante com malícia, e depois tornaram-se de novo inexpressivos — Foi você que fez isso — perguntou Dundy à moça, mostrando com a cabeça a testa ferida de Cairo, Ela olhou de novo para Spade, que não correspondeu absolutamente ao apelo dos seus olhos. Encostado ao batente, observava os circunstantes com o ar educado e desprendido de um espectador desinteressado.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Note que o narrador é onisciente, tem acesso a detalhes da ação e informações interiores
aos personagens,
mas não realiza comentários sobre o que está a narrar, mantendo-se neutro.
Alternativa incorreta
Note que o narrador é onisciente, tem acesso a detalhes da ação e informações interiores aos
personagens, mas não realiza comentários sobre o que está a narrar, mantendo-se neutro.
Não, senhora minha, ainda não acabou este dia tão comprido; não sabemos o que se passou entre Sofia e o Palha, depois que todos se foram embora. Pode ser até que acheis aqui melhor sabor que no caso do enforcado. Tende paciência; é vir agora outra vez a Santa Tereza. A sala está ainda alumiada, mas por um bico de gás; apagaram-se os outros, e ia apagar-se o último, quando o Palha mandou que o criado esperasse um pouco lá dentro. A mulher ia sair, o marido deteve-a, ela estremeceu.
Autor onisciente intruso
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Autor onisciente neutro
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem. Note que o narrador faz comentários sobre os acontecimentos, usa expressões avaliativas e
realiza interferências de modo a assumir o ponto de vista do leitor. Tudo que é narrado passa pelo
filtro do narrador, que escolhe o que revelar.
Alternativa incorreta
Note que o narrador faz comentários sobre os acontecimentos, usa expressões avaliativas e realiza
interferências de modo a assumir o ponto de vista do leitor. Tudo que é narrado passa pelo filtro do
narrador, que escolhe o que revelar.
“Sapateei, então me assustando de que nem gota de nada sucedia, e a hora em vão passava. Então, ele não queria existir? Existisse. Viesse! Chegasse, para o desenlace desse passo. Digo direi, de verdade: eu estava bêbado de meu. Ah, esta vida, às não-vezes, é terrível bonita, horrorosamente, esta vida é grande. Remordi o ar: — "Lúcifer! Lúcifer!..." — aí eu bramei, desengulindo. (...) Voz minha se estragasse, em mim tudo era cordas e cobras. E foi aí. Foi. Ele não existe, e não apareceu nem respondeu — que é um falso imaginado. Mas eu supri que ele tinha me ouvido. Me ouviu, a conforme a ciência da noite e o ouvir de espaços, que medeia. Como que adquirisse minhas palavras todas: fechou o arrocho do assunto. Ao que eu recebi de volta um adejo, um gozo de agarro, dai umas tranquilidades — de pancada. Lembrei dum rio que viesse adentro a casa de meu pai. Vi as asas, arquei o puxo do poder meu, naquele átimo. Aí podia ser mais? A peta, eu querer saldar: que isso não é falável. As coisas assim a gente mesmo não pega nem abarca. Cabem é no brilho da noite. Aragem do sagrado. Absolutas estrelas!”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Verifica-se que o narrador conhece apenas a si mesmo, seus sentimentos, impressões e
pensamentos. Porém, não é onisciente, não sabe se Lúcifer existe ou não, se houve pacto ou não,
tampouco nós, leitores, que compartilhamos a visão do protagonista.
Alternativa incorreta
Verifica-se que o narrador conhece apenas a si mesmo, seus sentimentos, impressões e pensamentos.
Porém, não é onisciente, não sabe se Lúcifer existe ou não, se houve pacto ou não, tampouco nós,
leitores, que compartilhamos a visão do protagonista.
“Enfim, casados. Venho agora da Prainha, aonde os fui embarcar para Petrópolis. O casamento foi ao meio-dia em ponto, na matriz da Glória, poucas pessoas, muita comoção. Fidélia vestia escuro e afogado, as mangas presas nos pulsos por botões de granada, e o gesto grave. D. Carmo, austeramente posta, é verdade, ia cheia de riso, e o marido também. Tristão estava radiante. Ao subir a escadaria, troquei um olhar com a mana Rita, e creio que sorrimos; não sei se nela, mas em mim era a lembrança daquele dia de cemitério, e do que lhe ouvi sobre a viúva Noronha. Aí vínhamos nós com ela a outras núpcias. Tal era a vontade do Destino. Chamo-lhe assim, para dar um nome a que a leitura antiga me acostumou e francamente gosto dele. Tem um ar fixo e definitivo. Ao cabo, rima com divino, e poupa-me as cogitações filosóficas.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Veja que o narrador é um personagem que narra sobre outros personagens, com estes no centro
da ação.
Alternativa incorreta
Veja que o narrador é um personagem que narra sobre outros personagens, com estes no centro da ação.
“Por que ela estava tão ardente e leve, como o ar que vem do fogão que se destampa? O dia tinha sido igual aos outros e talvez daí viesse o acúmulo de vida. Acordara cheia de luz do dia, invadida. Ainda na cama, pensara em areia, mar, beber água do mar na casa da tia morta, em sentir, sobretudo, sentir. Esperou alguns segundos sobre a cama e como nada acontecesse viveu um dia comum. Ainda não se libertara do desejo — poder — milagre, desde pequena. A fórmula se realizava tantas vezes: sentir a coisa sem possuí-la. (...) Quis o mar e sentiu os lençóis da cama. O dia prosseguiu e deixou-a atrás, sozinha.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Observe que a estória é apresentada por meio da mente da protagonista, transitando por seu
exterior e interior de forma fluida, focada na cena e nos detalhes.
Alternativa incorreta
Observe que a estória é apresentada por meio da mente da protagonista, transitando por seu exterior e
interior de forma fluida, focada na cena e nos detalhes.
“Ter, haver. Uma sombra no chão, um seguro que se desvalorizou, uma gaiola de passarinho. Uma cicatriz de operação na barriga e mais cinco invisíveis, que doem quando chove. Uma lâmpada de cabeceira, um cachorro vermelho, uma colcha e os seus retalhos. Um envelope com fotografias, não aquele álbum. Um canto de sala e o livro marcado.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Note que a cena é apresentada por meio de enumerações, focando em cada observação que
agrega e acumula sentidos. Trata-se de um trabalho de montagem de imagens, como se faz na edição de
vídeo captada por uma câmera aparentemente neutra.
Alternativa incorreta
Note que a cena é apresentada por meio de enumerações, focando em cada observação que agrega e acumula
sentidos. Trata-se de um trabalho de montagem de imagens, como se faz na edição de vídeo captada por
uma câmera aparentemente neutra.
Sinhá
Vitória
“Pensou de novo na cama de varas e mentalmente xingou Fabiano.
Dormiam naquilo, tinham-se acostumado, mas seria mais agradável
dormirem numa cama de lastro de couro, como outras pessoas. Fazia
mais de um ano que falava nisso ao marido. Fabiano a princípio concordara com ela, mastigara
cálculos, tudo errado.”
Fabiano
“Sinhá Vitória desejava possuir uma cama igual a de seu Tomás da
bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia
que era doidice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem. Qualquer dia o patrão os
botaria fora, e eles ganhariam o
mundo, sem rumo, nem teriam meio de conduzir os cacarecos.”
Autor onisciente intruso
Autor onisciente neutro
"Eu" como testemunha
Narrador-protagonista
Onisciência seletiva múltipla
Onisciência Seletiva
Modo dramático
Câmera
Alternativa correta
Muito bem! Veja que a narração transita por exterior e interior de múltiplos personagens, apresentando
a estória através de suas mentes.
Alternativa incorreta
Veja que a narração transita por exterior e interior de múltiplos personagens, apresentando a estória
através de suas mentes.
Agora é sua vez
Com base no que você aprendeu até aqui e a partir dos exemplos a que teve acesso, elabore trechos narrativos para cada tipo de narrador.
AUTOR ONISCIENTE INTRUSO
AUTOR ONISCIENTE NEUTRO
"EU" COMO TESTEMUNHA
NARRADOR-PROTAGONISTA
ONISCIÊNCIA SELETIVA MÚLTIPLA
ONISCIÊNCIA SELETIVA
O MODO DRAMÁTICO
A CAMÊRA
Se quiser, imprima a sua produção antes de avançar. Sua produção será perdida ao fechar o recurso.
Chegamos ao final!
Muito bem, você chegou ao final deste material sobre Foco Narrativo. Espera-se que, agora, você seja capaz de:
• Identificar o conceito de foco narrativo (ponto de vista narrativo).
• Discernir os conceitos de sumário narrativo e cena imediata.
• Reconhecer os diferentes tipos de narradores.
• Reconhecer as possibilidades e limites de cada tipo de foco narrativo.
• Produzir narrativas com diferentes tipos de pontos de vista narrativos.
Não deixe de ler as obras que inspiraram este material: